A arte de buscar a felicidade na vida que temos

                 Outro dia ao refletir sobre o dito popular “Vida boa é a do vizinho” cheguei à conclusão de  que, grande parte das pessoas  pensam assim. Acham que  só elas tem problemas, dificuldades, tribulações e que a vida do outro é perfeita e maravilhosa, quando,  na verdade,  isso é um mito.

                O coração do homem é, por natureza,  insaciável com aquilo que tem. E sempre está olhando para o outro, para quem,  a seus olhos,  tem mais ou tem o melhor. Por isso, é eternamente insatisfeito, está sempre querendo e buscando mais.
                Guardo na minha memória  algumas experiências que fiz ao longo da minha vida,  comigo mesma, na minha infância, das minhas atitudes e reações.  A minha cidade natal, Floriano-Piauí, é muito quente, por isso era praxe as pessoas  dormirem  de rede. E, dificilmente, as casas eram forradas. Por isso, antes de adormecer eu ficava a contemplar o telhado, olhando as frestas de luz que entravam pelas brechas e isso fazia com que meus pensamentos voassem para bem longe. Às vezes, até me levavam para dentro de mim mesma, como aconteceu com o fato que vou expor aqui nesse texto.  Vale ressaltar que isso ocorreu, se não estou enganada, nos meus 9 ou 10 aninhos. Mas,  que, apesar de aparentemente insignificante, deixou marcas no meu coração.
 Foi logo depois do natal. Eu havia pedido ao Papai Noel uma bicicleta (eu acreditava piamente nele, escrevia cartas, fingia que dormia para esperar a sua vinda, ficava extremamente ansiosa na véspera de natal) . E, naquela noite,  tudo  aconteceu como o meu coraçãozinho de criança esperava. No dia seguinte, quando acordei, foi grande a minha felicidade:  lá embaixo da minha rede estava  alguns mimos e a bicicleta tão sonhada. Não sabia se  sorria ou chorava, se pulava ou gritava. Uma felicidade indescritível. Entrei em um período de grande euforia  aprendendo a andar, levei alguns tombos, cheguei a quebrar o nariz,   mas ao me acostumar com o brinquedo, que satisfez  todos os meus anseios,  passei  a deixá-la de lado, a perder o interesse. Passava dias sem olhar para ela.
                E, diante desse fato, o meu avô, muito sábio, veio conversar comigo fazendo a seguinte observação: minha filha, você queria tanto essa bicicleta, Papai Noel teve muito trabalho para trazê-la até você e agora ela está jogada em um canto da casa. Você nem olha mais para ela. Parece que já perdeu o interesse.  O que houve? Ele fez a pergunta e saiu. Eu não o respondi. Porém, à noite, fiquei detida nos meus pensamentos em relação a isso e percebi que essa atitude  era uma constante em mim. Eu queria, queria uma coisa e depois que eu a conseguia, perdia o interesse, passava  a desejar uma    outra coisa.  Essa reflexão foi me acompanhando  durante toda a minha existência, em que eu ia percebendo que era essa a atitude comum por parte de todos, ou quase todos. A  maioria persegue um sonho, luta por ele e quando o consegue, se desinteressa. O alvo do desejo passa a ser uma outra coisa.
                Hoje, observando o dia a dia das  pessoas, podemos notar , claramente,  essa atitude em várias áreas ou situações da vida. As pessoas desejam um celular, por exemplo, e, daqui a poucos meses já sabem do último lançamento que oferece mais recursos, perdendo o interesse pelo anterior e assim em relação às demais coisas da vida.   No tocante  aos relacionamentos, a reação é a mesma, porém a coisa fica mais grave porque mexe com os sentimentos de uma outra pessoa. Os relacionamentos de hoje,  não  possuem o mesmo prisma de antes, não são  mais duradouros como antigamente. No início, percebe-se  a vontade de ficarem constantemente juntos, partilhando a vida, mas depois, com a rotina,   é levantada uma grande muralha de indiferença, desatenção e até mesmo de individualismo e ausência de diálogo. O interesse do começo parece que evaporou-se.
 Não precisamos bisbilhotar a vida alheia, basta ler as reportagens dos artistas famosos,  políticos e das personalidades que estão em alta na mídia que é sempre assim. A mesma coisa é imitada pelo cidadão comum. Mudam de parceiros, de  mulheres, como se muda de roupa. Há uma ausência total do amor duradouro. Parece que o amor não está mais sendo amado.
                O que fazer para inverter essa situação?  Como o próprio título do texto  sugere, buscar ser feliz com o que temos é uma arte que nos ensina a tirar os olhos do que não temos e valorizarmos o que está nas nossas mãos ou a nosso lado. Isso faz com que o nosso coração fique pacificado conosco e com os outros e a nossa vida em família passe a vivenciar a verdadeira felicidade, que consiste em construir um lar  solidificado  no amor adulto e seguro, capaz de amar o outro com as suas diferenças e, assim,  buscar  construir a  felicidade apesar das barreiras que encontramos à nossa frente.
                Para que isso aconteça, temos um preço a pagar:  Cultivar a semente do amor com o diálogo, carinho, renúncia, atenção, união e compreensão. Coisas que eram feitas espontaneamente na época do namoro e noivado e que, agora, parecem  ser um peso e até quem sabe nos envergonhamos  de fazê-las.  É preciso adubar e irrigar  a semente do amor para que ela não pereça. Essa é uma atitude que vale a pena. O agricultor, antes de colher os bons frutos, ele passa por um período de lida. Planta, aduba, tira as ervas daninhas, que insistem em crescer no meio da boa semente, irriga e pacientemente aguarda o dia em que todo o seu investimento se multiplique e retorne às suas mãos. Assim também acontece nos relacionamentos.  
                O amor necessita ser amado. E para isso deve ser valorizado e construído por pequenos gestos e delicadezas. Cabe a cada um de nós ser o promotor dessa corrente de paz, harmonia e união. A família agradece.  Você se habilita a dar esse passo?

                

Comentários

  1. PrezaDA Marlize Brito. Li seu comentario, gostei muito da sua frase" o amor precisa ser amado" . Saiba que muitos compartilham de seus sentimentos, apenas não sabem ou não podem se expressar e por isso não te encontram como eu te encontrei. Gostaria de manter contato contigo por ser uma pessoa com quem me identifico e a quem gostaria de me identificar. Sou um Teacher, isso nao é a mesma coisa que ser professor nos EUA, mas tambem não quer dizer instrutor no Brasil. é algo in between. meu email é inglesdecio@gmail.com e uso um site compartilhado que é www.embaixadaturistica.com.br e tenho uns poemas no recanto do livro com o pseudonimo de alencarino. ja te visietei sem ser convidado, agora me visite com convite.

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